Eu estava ainda a pouco conversando com uma amiga. Ela mora aqui a muitos anos e tinha ído passar uns meses no Brasil, voltou mês passado e até então não tínhamos nos falado. Perguntei como foi a viagem e no meio dos comentários saiu uma indignação pelos meninos malabaristas de sinal de trânsito.
Fico aqui pensando o quão difícil é a vida dessas crianças, que de tanto estarmos acostumados a ver todos os dias, esquecemos que são crianças. No Brasil, vivemos com medo, ao mesmo tempo que com desprezo a esses pequenos, e já ví até gente achando que dar cigarro a uma criança dessas como um ato de caridade. Onde está a aplicação da frase "as crianças são o futuro do país"? Que futuro estamos cultivando?
Lembro-me que quando eu estudava à noite, vinha de ônibus pelas ruas e via aquelas crianças que às nove e tantas da noite ainda não tinham terminado a sua jornada. Pra quem é de Recife, justamente naquela esquina onde fica o Hospital Português, todas as noites eu observava o comportamento daquelas crianças, que na verdade eram (ou ainda são, não sei se alguma providência foi tomada em relação a elas) na verdade escravas de uma senhora gorda que ficava sentada à esquina oposta de onde as crianças trabalhavam.
Tenho certesa que ela escravisava essas crianças pois as vezes algumas das crianças estavam recebendo o jantar que ela servia, e sempre haviam outras com uma expressão miserável, esgotada mesmo ainda no sinal fazendo seus malabarismos e olhando com inveja os que saciavam a sua fome. Posso estar enganada, mas me parecia que o alimento do dia estava condicionado a aquisição de uma cota de doações.
E a gente passa por essas coisas todos os dias, até bate um sentimento de indignação, mas ninguém nunca faz nada e a situação passa a ser normal. Pergunto a quem tem filhos: e se alí estivesse o seu filho? Será que a indiferença da sociedade seria tão grande se essas crianças fossem vistas como os filhos do país?
Quando a gente muda de país, passa a ver as coisas por uma outra perspectiva. Lembro-me que alguns amigos riram por uma carta coletiva que eu enviei, onde eu comentava o quão interessante eu achava que no condomínio onde eu moro as crianças deixam seus brinquedos ao relento, num condomínio sem muros, e os brinquedos sempre estavam lá no outro dia! Havia um carrinho desses que cabe a criança dentro e ela dirige ao estilo Flinstones. Esse carrinho sempre dormia numa posição e acordava em outra. Inúmeras crianças que passavam pelo condomínio faziam uso do tal carrinho vermelho, mas nenhuma delas jamais se apropriou indevidamente do bem alheio. Até tenho saudades dessas observações dos ambientes públicos que eu podia fazer do antigo apartamento no terceiro andar.
Isso é uma coisa que chama bastante atenção quando a gente muda pra cá. E não sou só eu. Hoje uma criança recém chegada do Brasil estava no meu carro e comentou conosco (eu e a mãe) que quando se acha alguma coisa no chão, no Brasil pode pegar, aqui não, tem dono mesmo que não esteja perto. Com tanta inocência ela expressou apenas o tamanho da corrupção na terra natal: não interessa o que aconteceu, a quem pertece, não se dá a menor importância ao bem alheio perdido. Não há o mínimo esforço em se procurar o verdadeiro dono daquele objeto e muito menos simplesmente deixá-lo alí até que o dono refaça seu caminho e reaveja o bem perdido.
Minha mãe sempre me dizia que se a pessoa não consegue ser honesta nas pequenas coisas, não será nas grandes. E o que acontece é que sem perceber a gente acaba ensinando as nossas crianças a serem desonestas, escravizamo-as e nem mesmo nos damos conta de que é nossa responsabilidade tudo o que está acontecendo no Brasil.
Simplesmente é mais fácil culpar o governo.
Fico aqui pensando o quão difícil é a vida dessas crianças, que de tanto estarmos acostumados a ver todos os dias, esquecemos que são crianças. No Brasil, vivemos com medo, ao mesmo tempo que com desprezo a esses pequenos, e já ví até gente achando que dar cigarro a uma criança dessas como um ato de caridade. Onde está a aplicação da frase "as crianças são o futuro do país"? Que futuro estamos cultivando?
Lembro-me que quando eu estudava à noite, vinha de ônibus pelas ruas e via aquelas crianças que às nove e tantas da noite ainda não tinham terminado a sua jornada. Pra quem é de Recife, justamente naquela esquina onde fica o Hospital Português, todas as noites eu observava o comportamento daquelas crianças, que na verdade eram (ou ainda são, não sei se alguma providência foi tomada em relação a elas) na verdade escravas de uma senhora gorda que ficava sentada à esquina oposta de onde as crianças trabalhavam.
Tenho certesa que ela escravisava essas crianças pois as vezes algumas das crianças estavam recebendo o jantar que ela servia, e sempre haviam outras com uma expressão miserável, esgotada mesmo ainda no sinal fazendo seus malabarismos e olhando com inveja os que saciavam a sua fome. Posso estar enganada, mas me parecia que o alimento do dia estava condicionado a aquisição de uma cota de doações.
E a gente passa por essas coisas todos os dias, até bate um sentimento de indignação, mas ninguém nunca faz nada e a situação passa a ser normal. Pergunto a quem tem filhos: e se alí estivesse o seu filho? Será que a indiferença da sociedade seria tão grande se essas crianças fossem vistas como os filhos do país?
Quando a gente muda de país, passa a ver as coisas por uma outra perspectiva. Lembro-me que alguns amigos riram por uma carta coletiva que eu enviei, onde eu comentava o quão interessante eu achava que no condomínio onde eu moro as crianças deixam seus brinquedos ao relento, num condomínio sem muros, e os brinquedos sempre estavam lá no outro dia! Havia um carrinho desses que cabe a criança dentro e ela dirige ao estilo Flinstones. Esse carrinho sempre dormia numa posição e acordava em outra. Inúmeras crianças que passavam pelo condomínio faziam uso do tal carrinho vermelho, mas nenhuma delas jamais se apropriou indevidamente do bem alheio. Até tenho saudades dessas observações dos ambientes públicos que eu podia fazer do antigo apartamento no terceiro andar.
Isso é uma coisa que chama bastante atenção quando a gente muda pra cá. E não sou só eu. Hoje uma criança recém chegada do Brasil estava no meu carro e comentou conosco (eu e a mãe) que quando se acha alguma coisa no chão, no Brasil pode pegar, aqui não, tem dono mesmo que não esteja perto. Com tanta inocência ela expressou apenas o tamanho da corrupção na terra natal: não interessa o que aconteceu, a quem pertece, não se dá a menor importância ao bem alheio perdido. Não há o mínimo esforço em se procurar o verdadeiro dono daquele objeto e muito menos simplesmente deixá-lo alí até que o dono refaça seu caminho e reaveja o bem perdido.
Minha mãe sempre me dizia que se a pessoa não consegue ser honesta nas pequenas coisas, não será nas grandes. E o que acontece é que sem perceber a gente acaba ensinando as nossas crianças a serem desonestas, escravizamo-as e nem mesmo nos damos conta de que é nossa responsabilidade tudo o que está acontecendo no Brasil.
Simplesmente é mais fácil culpar o governo.
4 comentários:
Amei, simplesmente verdadeiro...
Se fosse meu filho?? nao estaria ali, mas também infelizmente aqui no Brasil nao se pode fazer nada a respeito, se tentar fazer algo logo chega os "representantes" dos direitos humanos, e depois criam-se mecanismos de tirar dinheiro de quem ja esta se doando...uma vez tentei trabalha como voluntario num abrigo de criancas aki na minha cidade e nao demorou muito para aparecer um promotorzinho de merda e exigir uma porrada de coisas do abrigo, e que tds teriam que passar por um exame psicológico, ate ai td bem desde que eu nao tivesse que pagar por nada.. mas, nao foi o caso, td eu tinha que pagar alguma coisa na prefeitura, no forum... ou seja, desisti, de vez em qdo apareco no abrigo pra visitar e acabo ajudando em algo bem menor do que eu gostaria de fazer. Eu daria aulas de musica, eu estava pra me formar, mas como nao tinha a carteirinha da ordem dos musicos, nao poderia dar aula... Ridiculo, neh?
bjoconas vc ja esta nos meus favoritos.
Lord.
vidanoarmario.blog.terra.com.br
Estou pasma com a história.
E obrigada pela escolha.
:)
Falou e disse Fabi!
Nesta semana aconteceu um caso exemplar aqui no Brasil: um empresário roubou de seu empregado sua aposta premiada da mega-sena.
O combinado era dividirem o prêmio, mas o ladrão ofereceu apenas uma moto! E são mais de 20 milhões, Fabi! Dinheiro suficiente para ambas as famílias e seus descendentes viverem no luxo pelo resto da vida.
E depois reclamam do governo... aff!!
Nossa!
Dessa história eu não sabia!
:o
Postar um comentário