Eu acho que velhinhos em geral são simpáticos. Tem uns clientes já de idade avançada, digamos assim, que são fregueses lá da loja onde eu trabalho que me fazem rir sempre que eu os vejo. Perto do supermercado tem uma residência de velhinhos, que na verdade é um asilo. Onde eu trabalho tem tem cliente velhinho de todo tipo.
Começando pelos simpáticos, tem uma senhora que vai lá todo dia de manhã, faz questão de decorar o nome de cada pessoa. Dá bom dia com um sorriso enorme e cativante. Ela tá no asilo por questões de saúde, precisa de respirador e cadeira de rodas elétrica pra sair de casa. Acho que a manutenção do respirador é complicada, pois filho se mudou pra perto do asilo pra poder estar sempre com ela. É um rapaz bem simpático também, e um dos raros filhos que não abandona os pais nos asilos americanos.
Pois bem, um certo dia estava eu no meu balcãozinho e chega essa senhora gentil e sorridente na sua cadeira de sempre. Não pude deixar de notar que ela tinha um broche bastante diferente, era um camaleão ou algum outro tipo de lagarto feito de pano. Não pude deixar de elogiar, mesmo sendo de pano era bastante bonito. Então ela me contou essa história, que de tão simples é digna de uma criança de 5 anos: "O nome do bichinho é Draco. Ele sempre me dá força quando estou em situações difíceis e que me assustam. Então sempre que eu estou para ir a algum lugar difícil eu uso ele que é pra ele me ajudar a ter coragem pra enfrentar as situações difíceis. Ele é muito valente, e me dá parte da valentia dele." Eu sorri da bela história, cheia de singeleza e me despedi dela por aquele dia. Será que quando eu ficar velha eu vou conseguir ser tão cativante quanto ela?
O segundo velhinho que eu vou contar, é um senhor, que também sempre vai na loja com cadeira de rodas. Esse e conheço mais de vista. Nem sei o nome dele pra ser bem sincera. Um dia estava eu trabalhando como caixa. E me chega esse velhinho com sua voz fraca e me faz uma pergunta. Eu não consegui entender nada. O ambiente onde eu trabalho é muito barulhento, mas eu vou deixar esses detalhes pra outro dia. Continuando, eu estava na fila rápida e os outros clientes que estavam atrás do velhinho começaram a ficar impacientes com a demora pois eu não conseguia entender o que o velhinho estava perguntando. Num esforço pra a compreensão, eu saí de trás da registradora e fui para a frente do velhinho foi então que eu consegui ouvir: "qual o chiclete que não gruda?" apontando para a estante de balas que fica do lado da registradora. Nossa, a cliente que estava atrás dele abriu um olhão meio incredulidade e meio crítica. Como ela podia estar esperando a tanto tempo (menos de 1 minuto) atrás desse senhor por causa de uma pergunta dessas? Eu nem pensei. Automaticamente eu pedi a minha chefe que abrisse um outro caixa do meu lado pra tomar conta dos clientes atrás do velhinho enquanto eu ajudava ele. No fim das contas, acho que ele queria uma bala que não grudasse, e não achando a palavra ele usou a que ele achou: "chiclete", e isso gerou aquela pergunta sem resposta. Mas a cara da mulher que estava atrás dele é uma coisa que eu consigo compreender menos... Será que ela não sabe que os anos passam pra ela também?
A terceira e última velhinha que eu vou descrever hoje, é cliente antiga da loja. Vai toda tarde fazer as compras dela, e ao contrário dos outros, essa é uma pessoa pela qual eu não consigo sentir a menor simpatia. Velhinha muito bonitinha e de aparência bastante frágil, à primeira vista ela até desperta alguma simpatia misturada com pena, mas esta logo some uma vez que você tem que lidar com ela diariamente.
Ela chega diariamente com um carrinho de compras, desses que a pessoa sai puxando pela alça, e sempre ignorando os clientes que estão na frente dela, pede para que o carrinho seja colocado atrás do balcão de atendimento ao consumidor, que é onde eu trabalho. Quando chegamos perto dela, ela nunca está pronta. Quer que fiquemos a sua disposição enquanto ela vagarosamente decide o que fica no carrinho dela e o que vai para o carrinho do supermercado. Terminado o ritual, ela quer que alguém a ajude a encontrar dentro da loja todos os ítens que estão em sua lista de compras, e eu já fiz esse serviço. Ela me fez dar 10 voltas na loja. Compra uma coisa que está no primeiro corredor, depois vai para o último, depois volta para o segundo, e assim vai... A lista dela está ordenada de maneira a gastar o máximo de tempo possível dentro da loja. E aí vem o comportamento que mostra quem ela é: ela quer que todos os produtos sejam abertos para que ela compre algumas unidades. Por exemplo: de um pacote de biscoitos ela sempre quer comprar 3 unidades. Se ela por ventura não é autorizada, ela abre o produto em casa e no próximo dia devolve. Alguns produtos que são servidos na loja para provar, ela guarda e leva pra casa, coisas como manteiga de amendoim, ela sempre faz isso e nunca realmente compra. A esta altura você deve estar pensando "coitadinha, isso é por que não tem dinheiro pra comprar o pacote inteiro" aí é que você se engana. A velha é rica. É miserável mas é rica. O que mais explicaria que seu financial advisor, uma espécie de contador, a fosse procurar no supermercado por que ela não compareceu ao encontro de negócios? Ela me lembra aquele rico do conto de natal, ela é a personificação do rico que o Fantasma do Natal Futuro mostra a ele mesmo. Sozinho, rico, mas ainda com a idéia de que todos tem a obrigação de estar a sua disposição. É bem isso que essa velhinha faz. Não é que eu esteja me negando ao trabalho, mas eu não acho que ela tenha prioridade acima dos outros clientes, mas ela nem pensa nem age assim. Quando ela termina de comprar, ela vem buscar o carrinho para colocar suas compras nele. Não adianta levar o carrinho pra o embalador colocar as compras direto nele. Ainda assim ela quer alguém disponível na frente dela enquanto ela decide onde vai colocar cada coisa. Tem uns colegas de trabalho meus, que acham que ela vai lá todo dia e faz isso tudo pra não se sentir sozinha o dia inteiro. Bem, o que ela tem conseguido é fazer com que cada funcionário possível e imaginável se esconda da simples visão de sua entrada na loja. Ela é rica de dinheiro e pobre da coisa mais importante que existe nesse mundo. Tomara que um dia eu não termine como ela.
Começando pelos simpáticos, tem uma senhora que vai lá todo dia de manhã, faz questão de decorar o nome de cada pessoa. Dá bom dia com um sorriso enorme e cativante. Ela tá no asilo por questões de saúde, precisa de respirador e cadeira de rodas elétrica pra sair de casa. Acho que a manutenção do respirador é complicada, pois filho se mudou pra perto do asilo pra poder estar sempre com ela. É um rapaz bem simpático também, e um dos raros filhos que não abandona os pais nos asilos americanos.
Pois bem, um certo dia estava eu no meu balcãozinho e chega essa senhora gentil e sorridente na sua cadeira de sempre. Não pude deixar de notar que ela tinha um broche bastante diferente, era um camaleão ou algum outro tipo de lagarto feito de pano. Não pude deixar de elogiar, mesmo sendo de pano era bastante bonito. Então ela me contou essa história, que de tão simples é digna de uma criança de 5 anos: "O nome do bichinho é Draco. Ele sempre me dá força quando estou em situações difíceis e que me assustam. Então sempre que eu estou para ir a algum lugar difícil eu uso ele que é pra ele me ajudar a ter coragem pra enfrentar as situações difíceis. Ele é muito valente, e me dá parte da valentia dele." Eu sorri da bela história, cheia de singeleza e me despedi dela por aquele dia. Será que quando eu ficar velha eu vou conseguir ser tão cativante quanto ela?
O segundo velhinho que eu vou contar, é um senhor, que também sempre vai na loja com cadeira de rodas. Esse e conheço mais de vista. Nem sei o nome dele pra ser bem sincera. Um dia estava eu trabalhando como caixa. E me chega esse velhinho com sua voz fraca e me faz uma pergunta. Eu não consegui entender nada. O ambiente onde eu trabalho é muito barulhento, mas eu vou deixar esses detalhes pra outro dia. Continuando, eu estava na fila rápida e os outros clientes que estavam atrás do velhinho começaram a ficar impacientes com a demora pois eu não conseguia entender o que o velhinho estava perguntando. Num esforço pra a compreensão, eu saí de trás da registradora e fui para a frente do velhinho foi então que eu consegui ouvir: "qual o chiclete que não gruda?" apontando para a estante de balas que fica do lado da registradora. Nossa, a cliente que estava atrás dele abriu um olhão meio incredulidade e meio crítica. Como ela podia estar esperando a tanto tempo (menos de 1 minuto) atrás desse senhor por causa de uma pergunta dessas? Eu nem pensei. Automaticamente eu pedi a minha chefe que abrisse um outro caixa do meu lado pra tomar conta dos clientes atrás do velhinho enquanto eu ajudava ele. No fim das contas, acho que ele queria uma bala que não grudasse, e não achando a palavra ele usou a que ele achou: "chiclete", e isso gerou aquela pergunta sem resposta. Mas a cara da mulher que estava atrás dele é uma coisa que eu consigo compreender menos... Será que ela não sabe que os anos passam pra ela também?
A terceira e última velhinha que eu vou descrever hoje, é cliente antiga da loja. Vai toda tarde fazer as compras dela, e ao contrário dos outros, essa é uma pessoa pela qual eu não consigo sentir a menor simpatia. Velhinha muito bonitinha e de aparência bastante frágil, à primeira vista ela até desperta alguma simpatia misturada com pena, mas esta logo some uma vez que você tem que lidar com ela diariamente.
Ela chega diariamente com um carrinho de compras, desses que a pessoa sai puxando pela alça, e sempre ignorando os clientes que estão na frente dela, pede para que o carrinho seja colocado atrás do balcão de atendimento ao consumidor, que é onde eu trabalho. Quando chegamos perto dela, ela nunca está pronta. Quer que fiquemos a sua disposição enquanto ela vagarosamente decide o que fica no carrinho dela e o que vai para o carrinho do supermercado. Terminado o ritual, ela quer que alguém a ajude a encontrar dentro da loja todos os ítens que estão em sua lista de compras, e eu já fiz esse serviço. Ela me fez dar 10 voltas na loja. Compra uma coisa que está no primeiro corredor, depois vai para o último, depois volta para o segundo, e assim vai... A lista dela está ordenada de maneira a gastar o máximo de tempo possível dentro da loja. E aí vem o comportamento que mostra quem ela é: ela quer que todos os produtos sejam abertos para que ela compre algumas unidades. Por exemplo: de um pacote de biscoitos ela sempre quer comprar 3 unidades. Se ela por ventura não é autorizada, ela abre o produto em casa e no próximo dia devolve. Alguns produtos que são servidos na loja para provar, ela guarda e leva pra casa, coisas como manteiga de amendoim, ela sempre faz isso e nunca realmente compra. A esta altura você deve estar pensando "coitadinha, isso é por que não tem dinheiro pra comprar o pacote inteiro" aí é que você se engana. A velha é rica. É miserável mas é rica. O que mais explicaria que seu financial advisor, uma espécie de contador, a fosse procurar no supermercado por que ela não compareceu ao encontro de negócios? Ela me lembra aquele rico do conto de natal, ela é a personificação do rico que o Fantasma do Natal Futuro mostra a ele mesmo. Sozinho, rico, mas ainda com a idéia de que todos tem a obrigação de estar a sua disposição. É bem isso que essa velhinha faz. Não é que eu esteja me negando ao trabalho, mas eu não acho que ela tenha prioridade acima dos outros clientes, mas ela nem pensa nem age assim. Quando ela termina de comprar, ela vem buscar o carrinho para colocar suas compras nele. Não adianta levar o carrinho pra o embalador colocar as compras direto nele. Ainda assim ela quer alguém disponível na frente dela enquanto ela decide onde vai colocar cada coisa. Tem uns colegas de trabalho meus, que acham que ela vai lá todo dia e faz isso tudo pra não se sentir sozinha o dia inteiro. Bem, o que ela tem conseguido é fazer com que cada funcionário possível e imaginável se esconda da simples visão de sua entrada na loja. Ela é rica de dinheiro e pobre da coisa mais importante que existe nesse mundo. Tomara que um dia eu não termine como ela.
2 comentários:
Pobrezinha, ela só tem dinheiro...
Mão de vaca do jeito que ela é, nem amizade interesseira ela consegue.
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